sábado, 21 de julho de 2012

Em tempos em que quase ninguém se olha nos olhos, em que a maioria das pessoas pouco se interessa pelo que não lhe diz respeito, só mesmo agradecendo àqueles que percebem nossas descrenças, indecisões, suspeitas, tudo o que nos paralisa, e gastam um pouco da sua energia conosco, insistindo.
Martha Medeiros


Talvez não sejamos fortes o suficiente para entender que não são as pessoas que mudam e nos decepcionam. Somos nós que não as conhecemos de verdade. E quando conhecemos, só vemos exatamente aquilo que queremos ver. Por isso, não importa a altura da queda, ou o tamanho da dor, nunca culpe quem te derrubou da escada, se você preferiu subir de olhos fechados.
Joedson Lima 
E com o tempo você descobre que as coisas das quais você mais temia, não valia a pena fugir. Você descobre que algumas das guerras que você mais lutou para vencer, não lhe davam nenhuma sensação de vitória. E que amar alguém não significa que vai ser correspondido. Algumas coisas realmente demoramos para aprender, mas no momento em que aprendemos, descobrimos também que não podemos encher o mundo com o nosso medo, com a nossa luta, ou com o nosso amor. As pessoas realmente não se importam, o melhor que você pode fazer é apreciar suas pequenas vitórias, crescer com as derrotas, e tentar ser feliz com o peso disso tudo. E talvez, se você for esperto, vai se tornar a pessoa firme que as outras gostariam de ser.
Joe Lima 


terça-feira, 17 de julho de 2012


Irremissível regalo


Sua falta de expectativa e a aceitação das suposições irrelevantes faz com que cada momento inesperado seja mesmo uma surpresa. 
Daí nasce aquela ideia insana do ser humano de parar de devagar na capacidade de se criar probabilidades, as pessoas se cansam de tentar traçar sua própria trilha. Numa síntese: não arriscam.
Elas se cansam cedo de mais, reclamam de mais. Envelhecem cedo. Lavam a alma com a lama supostamente favorável à estética. Se afogam. Elas fogem, nós fugimos. O amor de quem se apaixona vira sorte, a dor justifica a morte de quem para de tolerar. É bom recordar da nossa parte patrícia, nem por isso ouvimos com a mesma frequência a música popular brasileira. É bom saber que o sol pode nascer ainda mais revigorante na manhã seguinte, saber que o por do sol poderia ser de fato emocionante o suficiente para gerar uma inspiração implícita nas linhas de um poeta alheio, mas não vira, o tal poeta sempre dorme de mais.
O tempo passa, a espera cansa. A dor aloja em algum lugar. E a surpresa que não te alcança faz com que o sol ofusque e nenhum de seus textos nutre a necessidade de se contentar. Você não se contenta. Você não se manifesta. Não sobra espaço pra que a mente ostente nem mesmo o escrúpulo. Perde-se o pudor, perde-se o orgulho.
Passou-se o tempo em que havia similitude no desânimo com o trauma. Não existem mais tantos corações a se partir. São as perdas, as pedras lançadas veementemente, sem dó, sem cura, ou fracas de mais para marcar algo em nossa vida. É a limitação do vocabulário que nos agonia tanto em algumas batidas do relógio, ele não pararia de rodar. Nossa história é, de fato, escrita à tinta manente cuja amônia cega até mesmo o olfato do cidadão. É irreparável. Inevitável. Inesperada. É isso.
Mas surpreende. E quando o gongo soa, quando a noite se perfaz a vestígios de lua, a gente se surpreende. A gente conhece gente. Se arrepende de toda a raiva sem fundamento. Não se prevê mudanças, haja créditos para a esperança. A gente volta a amar. O tempo dói, mas o tempo salva. O regalo é irremissível.



"No início você vai sorrir e, depois chorar  não diga que eu não avisei."
Nunca ninguém sabe se estou louco para rir ou para chorar. Por isso o meu verso tem esse quase imperceptível tremor. A vida é triste, o mundo é louco. Não vale a pena matar-se por isso nem por ninguém, por nenhum amor. A vida continua, indiferente.
Mário Quintana. 
Os tristes acham que o vento geme.
Os alegres acham que ele canta.

Luiz Fernando Veríssimo  
Acabo de concluir que algumas pessoas são infelizes por falta de entender um pouco mais da vida. Porque não percebem que a tempestade vem mesmo e que, às vezes, ela leva mais do que esperamos, mas ela também acaba, como tudo na vida, como a vida acaba um dia. Algumas pessoas são infelizes porque se entregam fácil demais às tempestades, deixam o vento levar tudo de si, porque não agarram, não ligam, não se importam, simplesmente desistem, pois não entendem que depois da tempestade, as cores aparecem novamente e a vida tem que continuar. A vida sempre foi e sempre vai ser uma questão de espera, de aguentar firme. O pior é que a gente sabe disso, mas não gostamos de esperar. Somos, de repente, tão infelizes porque somos apressados demais. Espera. Aguenta firme, a tempestade vai passar e o arco-íris vai vir.
Diego Nunes   

domingo, 15 de julho de 2012



E foi então que apareceu a raposa:
- Bom dia, disse a raposa. 
- Bom dia, respondeu polidamente o principezinho que se voltou mas não viu nada. 
- Eu estou aqui, disse a voz, debaixo da macieira… 
- Quem és tu? perguntou o principezinho. 
Tu és bem bonita. 
- Sou uma raposa, disse a raposa. 
- Vem brincar comigo, propôs o princípe, estou tão triste… 
- Eu não posso brincar contigo, disse a raposa. 
Não me cativaram ainda. 
- Ah! Desculpa, disse o principezinho. 
Após uma reflexão, acrescentou: 
- O que quer dizer cativar ? 
- Tu não és daqui, disse a raposa. Que procuras? 
- Procuro amigos, disse. Que quer dizer cativar? 
- É uma coisa muito esquecida, disse a raposa. 
Significa criar laços… 
- Criar laços? 
- Exatamente, disse a raposa. Tu não és para mim senão um garoto inteiramente igual a cem mil outros garotos.
E eu não tenho necessidade de ti.
E tu não tens necessidade de mim.
Mas, se tu me cativas, nós teremos necessidade um do outro. Serás pra mim o único no mundo. E eu serei para ti a única no mundo… Mas a raposa voltou a sua idéia: 
- Minha vida é monótona. E por isso eu me aborreço um pouco. Mas se tu me cativas, minha vida será como que cheia de sol. Conhecerei o barulho de passos que será diferente dos outros. Os outros me fazem entrar debaixo da terra. O teu me chamará para fora como música.
E depois, olha! Vês, lá longe, o campo de trigo? Eu não como pão. O trigo para mim é inútil. Os campos de trigo não me lembram coisa alguma. E isso é triste! Mas tu tens cabelo cor de ouro. E então serás maravilhoso quando me tiverdes cativado. O trigo que é dourado fará lembrar-me de ti. E eu amarei o barulho do vento do trigo… 
A raposa então calou-se e considerou muito tempo o príncipe: 
- Por favor, cativa-me! disse ela. 
- Bem quisera, disse o principe, mas eu não tenho tempo. Tenho amigos a descobrir e mundos a conhecer. 
- A gente só conhece bem as coisas que cativou, disse a raposa. Os homens não tem tempo de conhecer coisa alguma. Compram tudo prontinho nas lojas. Mas como não existem lojas de amigos, os homens não têm mais amigos. Se tu queres uma amiga, cativa-me! 
Os homens esqueceram a verdade, disse a raposa. 
Mas tu não a deves esquecer. 
Tu te tornas eternamente responsável por aquilo que cativas.
Antoine de Saint-Exupéry, O pequeno príncipe


Coloca um sorriso no rosto e uma força no coração. 
Ninguém precisa saber que a noite tu tens medo da escuridão. 
Coloca um sorriso no rosto pra esconder a dor.
Ninguém precisa saber que tu tens medo do amor.

Gabriela S.

Senti sua falta, mas eu não voltei porque era só isso: Falta. Falta do bem que você causava, falta das brincadeiras, dos seus ciúmes e das nossas conversas. Falta das madrugadas assistindo filmes e das suas trapalhadas. Eu não voltei porque senti falta do que nós éramos, e não do que somos agora.
Gabriela Machado.  
Eu gosto das pessoas que param para escutar. Que gostam de abraços, que conseguem amar. Gosto de pessoas que riem de modo estranho, choram escondidas. Gosto de pessoas que não se escondem atrás de máscaras, pessoas que são fortes, pessoas que sempre seguem em frente. Gosto de pessoas que gostam de pessoas. Gosto de pessoas que sabem o motivo de uma lágrima, que estão sempre por perto. Gosto de pessoas que nunca se vão, de pessoas que ficam, que tentam, que conseguem. Gosto de pessoas assim… Como elas são.
Tati Berardi.


O que eu sou não lhe diz respeito, em parte nenhuma lhe toca. Nasci para poucos e morro por quase ninguém. Contradigo-me em passos de dança invisíveis, enlaçando pernas e prendendo bocas, querendo muito e gostando tão pouco. Não é insatisfação ou sofrimento, é só um tudo ao mesmo tempo agora que não respeita amor de menos, não aceita um gostar pouquinho e querer às vezes. Uma intensidade que não se conforma com noites únicas de começo, meio e fim. Se estou aqui é pela música, pela companhia, pra me perder. Jamais pra desperdiçar uma noite com quem não sabe conversar.
Não me pergunte o que eu faço da vida, isso é banal, é triste, é comum. Queira saber o que me faz feliz, meu ponto fraco pras cócegas. Não pergunte o que me dá dinheiro, porque este é o menor dos meus sucessos. Esqueça meu nome verdadeiro, se eu venho sempre aqui, se estou gostando da música. Agir sem naturalidade é o seu maior fracasso.
Se é mesmo importante que eu responda as perguntas que tanto desprezo, se definir o que sou vai te fazer mais feliz, se quer mesmo saber de mim, comece pelas entrelinhas. Pelo não dito. Pelo movimento dos cílios e as pupilas dilatadas, os olhos nervosos que não se fixam, o modo de apoiar o peso do corpo em uma das pernas e me preocupar com o cabelo. Olhe para as mãos que não sabem repousar e a voz que desafina. Por favor, sou tão ridiculamente fácil de decifrar e ainda insistem em seguir pelo caminho errado. Exponho-me tanto e ainda querem uma cartilha.
E fazem isso porque amam de relance, querem no momento e só por desafio. Porque têm preguiça ou medo de cumplicidade e acreditam perder a noite se optarem por se apaixonar pelo próprio ego. Porque perdem oportunidades de se calarem quando é papel dos olhos falar. É por isso que eu estou sozinha nesse mundo de luzes e pessoas. É por isso que eu saio de casa e minha roupa não precisa agradar ninguém além de mim. Porque não deixo o calor da minha rotina pra ser prenda em vitrine.
O que eu sou não lhe diz respeito, em parte nenhuma lhe toca. Mas se quiser mesmo saber de mim, experimente não me perguntar. E talvez assim desperte minha vontade de contar.
Verônica H.

sexta-feira, 13 de julho de 2012




O melhor álbum de fotografia é a nossa memória, nela ficam gravadas fotos reais de momentos bons e ruins de nossa vida. —Márcia Reis



Leve na sua memória para o resto de sua vida, as coisas boas que surgiram no meio das dificuldades. Elas serão uma prova de sua capacidade em vencer as provas e lhe darão confiança na presença divina, que nos auxilia em qualquer situação, em qualquer tempo, diante de qualquer obstáculo. — Chico Xavier. 


Sou forte. Meio doce e meio ácida. Em alguns dias acho que sou fraca. E boba. Preciso de um lugar onde enfiar a cara pra esconder as lágrimas. Aí penso que não sou tão forte assim e começo a olhar pra mim. Sou forte sim, mas também choro. Sou gente. Sou humana. Sou manhosa. Sou assim. Quero que as coisas aconteçam já, logo, de uma vez. Quero que meus erros não me impeçam de continuar olhando para a frente. E quero continuar errando, pois jamais serei perfeita (ainda bem!). Tampouco quero ser comum e normal. Quero ser simplesmente eu. Quero rir, sorrir e chorar. Sentir friozinho na barriga, nó no peito, tremedeira nas pernas. Sentir que as coisas funcionam e que tenho que trocar de jeito quando insisto em algo que não dá resultado. Quero aprender e, ainda assim, continuar criança. Ficar no sol e sentir o vento gelado no nariz. Quero sentir cheiro de grama cortada e café passado. Cheiro de chuva, de flor, cheiro de vida. Aprecio as coisas simples e quero continuar descomplicando o que parece complicado. Se der pra resolver, vamos lá! Se não dá, deixa pra lá. A vida não é complicada e nem difícil, tudo depende de como a gente encara e se impõe. Quero ser eu, com minha cara azeda e absurdamente açucarada. Não quero saber tudo e nem ser racional. Quero continuar mantendo o meu cérebro no lugar onde ele se encontra: meu coração. E essa é a melhor parte de mim. —Clarissa Corrêa


Carlos Drummond de Andrade, História Natural, Corpo





"Podemos julgar o coração de um homem pela forma que ele trata os animais."

quinta-feira, 12 de julho de 2012




Olha, as pessoas não deviam partir. É isso que acho: todo mundo tinha que ser eterno. Mas, por outro lado, as lembranças são eternas, ficam dentro da gente. E se nós estamos aqui para cumprir uma missão e depois seguir em frente, que assim seja. E que num futuro todo mundo se encontre e seja feliz para sempre. É isso que desejo, pra mim, pra você e pra todo mundo.
Clarissa Corrêa. 


“‎Sentir falta é diferente de sentir saudade. A saudade bate, agonia, estremece. A falta congela,chora, entristece. A saudade é a certeza que a pessoa vai voltar. A falta, é o querer ter de volta, mas saber que não vai ter.”
Tati Bernardi 

Tenho amor incondicional pelas pessoas que entram em minha vida e sinceramente, não sei o quanto isso é bom nos dias atuais. Talvez esse seja meu pior defeito.
Cazuza. 
Então, que seja doce. Repito todas as manhãs, ao abrir as janelas para deixar entrar o sol ou o cinza dos dias, bem assim, que seja doce. Quando há sol, e esse sol bate na minha cara amassada do sono ou da insônia, contemplando as partículas de poeira soltas no ar, feito um pequeno universo; repito sete vezes para dar sorte: que seja doce que seja doce que seja doce e assim por diante.
Caio Fernando Abreu

Quer saber? Abraça o que é teu, abraça o que te faz bem, abraça o que te faz feliz.
Caio Fernando Abreu. 

E tinha tantos sonhos, e tão poucos realizava. E tantas lágrimas saíam de teu rosto, e quase nunca sorria. E tantas decepções, e tão poucas realizações. Mas isso de alguma forma tinha que mudar. Tinha que correr atrás, lutar. Fazer de tuas lembranças grandes recordações.
Aquarelar  
A gente é tão pequeno, tão humano, tão simples. E a vida, meu amigo, é tão complexa, complicada, difícil.
Clarissa Corrêa. 

Todos erram um dia: por descuido, inocência ou maldade.
William Shakespeare   
Permita-se rir e conhecer outros corações. Aprenda a viver, aprenda a amar as pessoas com solidariedade, aprenda a fazer coisas boas, aprenda a ajudar os outros, aprenda a viver sua própria vida.
Mario Quintana   

Me busco em músicas que dão ritmo ao que sinto de forma silenciosa e me busco em trechos de livros que revelam idéias que mantenho ainda embaralhadas.
Martha Medeiros. 



A máquina do papai batia tac-tac… tac-tac-tac… O relógio
acordou em tin-dlen sem poeira. O silêncio arrastou-se
zzzzzz. O guarda-roupa dizia o quê? roupa-roupa-roupa.
Não, não. Entre o relógio, a máquina e o silêncio havia uma
orelha à escuta, grande, cor-de-rosa e morta. Os três sons
estavam ligados pela luz do dia e pelo ranger das folhinhas da
árvore que se esfregavam umas nas outras radiantes.
Encostando a testa na vidraça brilhante e fria olhava
para o quintal do vizinho, para o grande mundo das galinhas-
que-não-sabiam-que-iam-morrer. E podia sentir como se
estivesse bem próxima de seu nariz a terra quente, socada,
tão cheirosa e seca, onde bem sabia, bem sabia uma ou outra
minhoca se espreguiçava antes de ser comida pela galinha
que as pessoas iam comer.
Houve um momento grande, parado, sem nada dentro.
Dilatou os olhos, esperou. Nada veio. Branco. Mas de repente
num estremecimento deram corda no dia e tudo recomeçou a
funcionar, a máquina trotando, o cigarro do pai fumegando, o
silêncio, as folhinhas, os frangos pelados, a claridade, as coisas revivendo cheias de pressa como uma chaleira a ferver.
Só faltava o tin-dlen do relógio que enfeitava tanto. Fechou os
olhos, fingiu escutá-lo e ao som da música inexistente e
ritmada ergueu-se na ponta dos pés. Deu três passos de
dança bem leves, alados.
Então subitamente olhou com desgosto para tudo como
se tivesse comido demais daquela mistura. “Oi, oi, oi…”,
gemeu baixinho cansada e depois pensou: o que vai acontecer
agora agora agora? E sempre no pingo de tempo que vinha
nada acontecia se ela continuava a esperar o que ia
acontecer, compreende? Afastou o pensamento difícil
distraindo-se com um movimento do pé descalço no assoalho
de madeira poeirento. Esfregou o pé espiando de través para
o pai, aguardando seu olhar impaciente e nervoso. Nada veio
porém. Nada. Difícil aspirar as pessoas como o aspirador de
pó.
— Papai, inventei uma poesia.
— Como é o nome?
— Eu e o sol. — Sem esperar muito recitou:
— “As galinhas que estão no quintal já comeram duas
minhocas mas eu não vi”.
— Sim? Que é que você e o sol têm a ver com a poesia?
Ela olhou-o um segundo. Ele não compreendera…
— O sol está em cima das minhocas, papai, e eu fiz a
poesia e não vi as minhocas… — Pausa.
— Posso inventar outra agora mesmo: “Ó sol, vem
brincar comigo”. Outra maior:
“Vi uma nuvem pequena coitada da minhoca acho que
ela não viu”.
— Lindas, pequena, lindas. Gomo é que se faz uma
poesia tão bonita?
— Não é difícil, é só ir dizendo.
Já vestira a boneca, já a despira, imaginara-a indo a uma festa onde brilhava entre todas as outras filhas. Um
carro azul atravessava o corpo de Aríete, matava-a. Depois
vinha a fada e a filha vivia de novo. A filha, a fada, o carro
azul não eram senão Joana, do contrário seria pau a
brincadeira. Sempre arranjava um jeito de se colocar no papel
principal exatamente quando os acontecimentos iluminavam
uma ou outra figura. Trabalhava séria, calada, os braços ao
longo do corpo. Não precisava aproximar-se de Aríete para
brincar com ela. De longe mesmo possuía as coisas.
Divertiu-se com os papelões. Olhava-os um instante e
cada papelão era um aluno. Joana era a professora. Um deles
bom e outro mau. Sim, sim, e daí? E agora agora agora? E
sempre nada vinha se ela… pronto.
Inventou um homenzinho do tamanho do fura-bolos, de
calça comprida e laço de gravata. Ela usava-o no bolso da
farda de colégio. O homenzinho era uma pérola de bom, uma
pérola de gravata, tinha a voz grossa e dizia de dentro do
bolso: “Majestade Joana, podeis me escutardes um minuto,
só um minuto podereis interromperdes vossa sempre ocupa-
ção?” E declarava depois: “Sou vosso servo, princesa. É só
mandar que eu faço”.
— Papai, que é que eu faço?
— Vá estudar.
— Já estudei.
— Vá brincar.
— Já brinquei.
— Então não amole.
Deu um corrupio e parou, espiando sem curiosidade as
paredes e o teto que rodavam e se desmanchavam. Andou na
ponta dos pés só pisando as tábuas escuras. Fechou os olhos
e caminhou, as mãos estendidas, até encontrar um móvel.
Entre ela e os objetos havia alguma coisa, mas quando
agarrava essa coisa na mão, como a uma mosca, e depois es-
piava — mesmo tomando cuidado para que nada escapasse
— só encontrava a própria mão, rósea e desapontada. Sim, eu
sei o ar, o ar! Mas não adiantava, não explicava. Esse era um de seus segredos. Nunca se permitiria contar, mesmo a papai,
que não conseguia pegar “a coisa”. Tudo o que mais valia
exatamente ela não podia contar. Só falava tolices com as
pessoas. Quando dizia a Rute, por exemplo, alguns segredos,
ficava depois com raiva de Rute. O melhor era mesmo calar.
Outra coisa: se tinha alguma dor e se enquanto doía ela
olhava os ponteiros do relógio, via então que os minutos
contados no relógio iam passando e a dor continuava doendo.
Ou senão, mesmo quando não lhe doía nada, se ficava
defronte do relógio espiando, o que ela não estava sentindo
também era maior que os minutos contados no relógio. Agora,
quando acontecia uma alegria ou uma raiva, corria para o
relógio e observava os segundos em vão.
Foi à janela, riscou uma cruz no parapeito e cuspiu fora
em linha reta. Se cuspisse mais uma vez — agora só poderia
à noite — o desastre não aconteceria e Deus seria tão amigo
dela, mas tão amigo que… que o quê?
— Papai, que é que eu faço?
— Eu já lhe disse: vá brincar e me deixe!
— Mas eu já brinquei, juro. Papai riu:
— Mas brincar não termina…
— Termina sim.
— Invente outro brinquedo.
— Não quero brincar nem estudar.
— Quer fazer o quê então? Joana meditou:
— Nada do que sei…
— Quer voar?, pergunta papai distraído.
— Não, responde Joana. — Pausa.
— Que é que eu faço?
Papai troveja dessa vez:
— Bata com a cabeça na parede!
Ela se afasta fazendo uma trancinha nos cabelos escorridos. Nunca nunca nunca sim sim, canta baixinho.
Aprendeu a trançar um dia desses. Vai para a mesinha dos
livros, brinca com eles olhando-os a distância. Dona de casa
marido filhos, verde é homem, branco é mulher, encarnado
pode ser filho ou filha. “Nunca” é homem ou mulher? Por que
“nunca” não é filho nem filha? E “sim”? Oh, tinha muitas
coisas inteiramente impossíveis. Podia-se ficar tardes inteiras
pensando. Por exemplo: quem disse pela primeira vez assim:
nunca?
Papai termina o trabalho e vai encontrá-la sentada
chorando.
— Mas que é isso, menininha? — pega-a nos braços,
olha sem susto o rostinho ardente e triste.
— O que é isso?
— Não tenho nada o que fazer. Nunca nunca sim sim.
Tudo era como o barulho do bonde antes de adormecer, até
que se sente um pouco de medo e se dorme. A boca da
máquina fechara como uma boca de velha, mas vinha aquilo
apertando seu coração como o barulho do bonde; só que ela
não ia adormecer. Era o abraço do pai. O pai medita um
instante. Mas ninguém pode fazer alguma coisa pelos outros,
ajuda-se. Anda tão solta a criança, tão magrinha e precoce…
Respira apressado, balança a cabeça. Um ovinho, é isso, um
ovinho vivo. O que vai ser de Joana?
 — Perto do Coração Selvagem, Clarice Lispector

— ” Estar assim. Estar assim, de que maneira, moça? Estar assim, como você me vê, como todos me vêm, e saem por aí buscando saber como eu estou. E como você está, moça? Eu estou assim, rodeada de pessoas que tiram várias conclusões de mim, difamam o meu sorriso, procurando descobrir qualquer vestígio de minhas últimas lágrimas e talvez querendo, transformá-las em uma realidade comum para mim. Mas nenhuma dessas pessoas, podem saber como eu me sinto todos os dias. Pois bem, diga-me então, como você realmente se sente… Ah, querido, se eu realmente pudesse lhe expressar de alguma maneira como eu me sinto, eu diria para todos, apenas para que deixassem de tirar conclusões precipitadas sobre mim. — Desconhecido

Fica a dica.



Não chore
Feche seus olhos

Tudo vai ficar bem."

Pa-paradise


Veja bem. Não tô dizendo que superei, as feridas estão comigo, servindo de baliza pra reconhecer esse lado quente e fresco das coisas. Mas eu preciso ir, não posso falar contigo agora. Tenho pressa de apertar o play. Dá licença? Então sai debaixo da minha sacada. E da próxima vez que sair na chuva, vê se antes aprende a se molhar.
Gabito Nunes 

Rindo aos quatro ventos, cantarolando pelas esquinas, sorrindo perdida. Perdida em algum pensamento, muito provavelmente em que você esteja.
Aghata Paredes

Triste realidade


A pior coisa do mundo é quando alguém faz você se sentir especial, e de repente, te deixa de lado. E aí você tem que agir como se não se importasse.
Skins

Não deixe que a saudade sufoque, que a rotina acomode, que o medo impeça de tentar. Desconfie do destino e acredite em você. Gaste mais horas realizando que sonhando, fazendo que planejando, vivendo que esperando porque, embora quem quase morre esteja vivo, quem quase vive já morreu…
Luis Fernando Verissimo. 

Simbora então!