terça-feira, 17 de julho de 2012

Irremissível regalo


Sua falta de expectativa e a aceitação das suposições irrelevantes faz com que cada momento inesperado seja mesmo uma surpresa. 
Daí nasce aquela ideia insana do ser humano de parar de devagar na capacidade de se criar probabilidades, as pessoas se cansam de tentar traçar sua própria trilha. Numa síntese: não arriscam.
Elas se cansam cedo de mais, reclamam de mais. Envelhecem cedo. Lavam a alma com a lama supostamente favorável à estética. Se afogam. Elas fogem, nós fugimos. O amor de quem se apaixona vira sorte, a dor justifica a morte de quem para de tolerar. É bom recordar da nossa parte patrícia, nem por isso ouvimos com a mesma frequência a música popular brasileira. É bom saber que o sol pode nascer ainda mais revigorante na manhã seguinte, saber que o por do sol poderia ser de fato emocionante o suficiente para gerar uma inspiração implícita nas linhas de um poeta alheio, mas não vira, o tal poeta sempre dorme de mais.
O tempo passa, a espera cansa. A dor aloja em algum lugar. E a surpresa que não te alcança faz com que o sol ofusque e nenhum de seus textos nutre a necessidade de se contentar. Você não se contenta. Você não se manifesta. Não sobra espaço pra que a mente ostente nem mesmo o escrúpulo. Perde-se o pudor, perde-se o orgulho.
Passou-se o tempo em que havia similitude no desânimo com o trauma. Não existem mais tantos corações a se partir. São as perdas, as pedras lançadas veementemente, sem dó, sem cura, ou fracas de mais para marcar algo em nossa vida. É a limitação do vocabulário que nos agonia tanto em algumas batidas do relógio, ele não pararia de rodar. Nossa história é, de fato, escrita à tinta manente cuja amônia cega até mesmo o olfato do cidadão. É irreparável. Inevitável. Inesperada. É isso.
Mas surpreende. E quando o gongo soa, quando a noite se perfaz a vestígios de lua, a gente se surpreende. A gente conhece gente. Se arrepende de toda a raiva sem fundamento. Não se prevê mudanças, haja créditos para a esperança. A gente volta a amar. O tempo dói, mas o tempo salva. O regalo é irremissível.

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